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isto he, homens, que tendo-se alistado no numero dos Fieis pelo baptismo, teimosos em opinioens contrarias á immutavel doutrina do Salvador, e de seos Apostolos, se separaram do corpo da Igreja, e formaram seitas. Tal he a condição do espirito humano até mesmo nas verdades mais evidentes: o homem cégo pelo proprio orgulho gosta de singularisar-se ainda á custa da verdade, que elle mesmo sente. Temos disto exemplos quotidianos, além dos que nos presen tam as seitas Philosoficas

Jorge Berkelei negou a realidade dos corpos, e defendeo o idealismo: Malebranche sustentou, que era precisa a Revelagao para nos assegurar da existencia dos corpos: Diodoro negava todo o movimento; e que cousa ha mais palpavel, que a trasladagaō de qualquer corpode um lugar para outro? Succedeo-lhe deslocar um braço: chamou o Medico Hierophilo, que o não curou, em quanto elle nao abandonou este pyrrhonismo insensato a força da dôr o obrigou a descer do orgulho, que o dominava, e quer o fazia defender o contrario do que sentia.

Pyrrho ensinou, que nada se podia saber; que nao havia cousa verdadeira, nem falsa, justa ou injusta, e que se devia duvidar de tudo. Este homem arrastrado por seo capricho, para sustentar, que era consequente a respeito de seos principios, chegava a não desyiar-se de um ca

vallo, ou cêche, ou cousa semelhante, que en-contrava na estrada, e teria sido damnificado gravemente, ou morto, se seos amigos lhe não valessem em taes occasioens. Não foi elle só: teve sectarios mui fallados, que já atraz nomeámos: acabaria sua seita insana em Timão Philisio, mas foi reanimada, e propagada por Ptolemeo Cyreneo, e Sexto Empirico, que floreceo no tempo do Imperador Antonino Pio, e esereveo 10 livros sobre o Pyrrhonismo, ou Scepti cismo: esta seita de loucos durou assim mesmo 236 annos!

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Não ha uma verdade no mundo, que não tenha tido antagonistas, ainda as de primeira intuiçao, e senso intimo. Um entendimento fraco,eborgulhoso he susceptivel de todas as extravagancias do espirito. Lêa-se a obra do P. Croiset, intitulada illusions du Ceur, na qual demostra pela historia, que todas as heresias devem sua origem a uma paixão, c sao depois sustentadas pelo orgulho. Nao he pois para admirar, que as verdades sublimes, e mysteriosas do Christianismo tivessem por contradictores logo em seo principio homens, que, ou aspiravam a ganhar nome, como chefes de seitas, taes eram Simão Mago, Menandro, &c., ou por sua escassa intelligencia erravam, erravam, e se obstinavam, como parecem ter sido os Ebionitas, cujo "erro principal era o judaizar; ou tendo sahido da es

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differentes genios, e interesses, e dispersos em fantas e taó remotas regioens, concordassem todos em adulterar de qualquer maneira estes livros; e no caso, que isso fosse havia de cons-tar a época, e os primeiros autores, &c., e se fossem os Catholicos Romanos, reclamariam, as seitas hereticas, e se estes fossem os corruptores, reclamaria a Igreja Romana, como® fez, quando Valentim, e Marciao os quizeram adulterar, ao mesmo tempo, que nem os maiores inimigos da Religião criminaram jamais a Igreja Romana de corruptora dos livros santos.

Um ou poucos Christãos não podiam adulterar os Evangelhos, porque apenas estes foram escriptos por seos autores, logo foram espalhados por toda a parte, e traduzidos em varias lingoas eram explicados pelos Pastores na prezença de todo o povo, andavam nas mãos de: todos, e os respeitavam tanto, que nos primei-ros tempos não se atreviam a toca-los sem ter lavado as mios. Não só a vigilancia dos Apos-tolos na propagação da Religião, e no governo. das Igrejas, que visitavam de continuo, premunindo os discipulos do Evangelho contra as cavillagoens de seos inimigos, obstava á corrupção, dos Evangelhos em vida de seos, autores, mas tambem a veneração dos Fieis para com es A postolos, e seos escriptos. Aos Apostolos seguiramse os Padres da Igreja, e os textos dos Evanl-

gelhos, que hoje temos nos nossos codigos, são lidos da mesma sorte nos livros dos mesmos Padres, que os explicavam, e sobre elles fundavam suas doutrinas. Todos os exemplares, de que usa a Igreja Romana, sao conformes.

Concluamos portanto, que os 4 Evangelhos, que se tem na Igreja Catholica Romana, saẻ taes, quaes os escreveram os Apostolos.

CAPITULO 3.*

Applicação, e conclusão da precedente doutrina.

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45. A tradiccao oral, a mais autentica do Universo (41.), e a tradicção escripta nos 4 Evangelhos, cuja veracidade acabamos de demons→ trar, e em que se contém a doutrina theoretica e pratica da Religiao Christan, nos attestam, que Jesus Christo, e seos Apostolos, e Discipulos obraram uma multiplicidade de milagres (muitos dos quaes já expozemos', c analysamos na propos. 32.), em confirmação de sua divina Missao, e doutrina; os quaes Jesus Christo coroou emfim com sua ressurreiçaō, e assenção ao Ceo, de que foram testemunhas todos os seos Discipulos, com os quaes depois de ressuscitado conversou no espaço de 40 dias, deixando-se vêr no monte de Galiléa, na setima vez, que lhes appareceo, a mais de mais de quinhentas pessoas: da

cola de Platão, pertendiam desfigurar as verdadades do Christianismo com as idéas deste Philosofo, como Cerintho, Basilides, Valentim, &c.; ou arrastados pelos appetites carnaes, quizeram manchar a pureza da moral de Jesus Christo, com todo o genero de torpezas, taes foram os Nicolaitas, Gnosticos, &c. Note-se porém, que nenhum Heresiarcha desde Dositheo, Judeo da seita Samaritana, no anno 52 da era Christan, até os Quietistas em 1687, negou jamais os factos fundamentaes do Christianismo - a existencia de Jesus Christo, e dos Apostolos, sua pregaçao, e seos milagres em confirmaçao de sua doutrina.

Até o principio do seculo 18, contamos 96 heresias principaes: a maior parte destas seitas já não subsistem. As seitas Christans dissidentes da Igreja Catholica Romana, estaō hoje reduzidas á Igreja Grega Scismatica na Russia Europea, e parte da Asiatica, na Republica das 7 Ilhas, e Reino da Grecia; á Igreja Anglicana nas Ilhas Britanicas; á Lutherana na Prussia oriental, Pomerania, Brandeburgo, Saxonia, Scandinavia, Dinamarca, Hanover, Wurtemberg, e em grande parte dos Estades soberanos de quarta ordem na Alemanhe; á Reformada em Berlim, Posdam, Saxonia, nos Ducados de Anhalt Dessau, Anhalt Bernburgo, Anhalt Coethen, Reuss, &c., e Hamburgo; á

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