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goens, tributos, e escravidão, a que os tinha reduzido a dominaçao despotica dos Principes Musulmanos usurpadores daquelles paizes, e inimigos declarados da Religiaō Christãa. Nenhuma das antigas heresias foi combatida com a espada na mao. Os Imperadores orthodoxos jamais pozeram exercito em campo contra os Arianos sediciosos, que pertendiam apoderar-se das Igrejas catholicas, nem os puniram com supplicios. Os Arianos Borguinhoens, e Godos foram perseguidores, e nao perseguidos. Se no quinto seculo foram enviadas tropas á Africa contra os Donatistas, isto se fez para reprimir suas insolencias, e nao para os obrigar a abjarar seo erro. Os que perseguiram os Priscillianistas na Hespanha, foram excommungados por muitos Bispos. He falso que Carlos Magno tenha feito guerra aos Saxonios para os forçar a admittir o christianismo: está provado pela historia, que o objecto destas guerras foi sempre o mesmo, á saber, as correrias, roubos, devastagaō, insolencias, e perfidia destes barbaros, e a violaçao continua de suas promessas. Os mesmos incredulos tem escripto que a verdadeira causa da cruzada contra os Albigenses no seculo duodecimo fora a cobiça de possuir os despojos de Raymundo, Conde de Tolosa · a verdade he, que foi necessario perseguir a quelies hereges por causa de sua perfidia, des

crimes, e violencias, de que eram culpados. A verdadeira causa das guerras, com que os Hunitas assolaram a Bohemia no seculo decimo quinto, não foi a Religião; será difficil sustentar o contrario. Muitos Escriptores sém suspeita, como Bayle, David Hume, Rousseau &c. concordam, e provam que a Religião não foi a causa das guerras civís, a que deram lugar as heresias de Luthero, e Calvino na Alemanha, França, e Inglaterra, mas sim um pre<texto daquellas perturbaçoens; que o verdadeiro movel, que fez obrar os Reformadores, e seos proselytos era o desejo da independencia, o espirito republicano, o ciume, que reinava entre os Grandes, a ambição de apoderar se da authoridade Civil e Ecclesiastica; e isto foi demonstrado pela conducta dos Huguenotes em todos os lugares de que se fizeram senhores.

Os Governos por consequencia sem motivo algum de religião tiveram solidas rasoens para reprimir com a força, e intimidar pelos supplicios um partido temivel em sua origem, e que mudou effectivamente o governo, onde quer que dominou.

Embora na mente do pove estas guerras fossem guerras de religtão; porque os Calvinistas pertendiam o livre exercicio da sua, e a ruina da Catholica, e por isso tomaram armas; s Catholicos temendo por sua Religião julga

vam se obrigados a defende la; e ao mesmo tempo o Soberano, e os Grandes receavam perder sua authoridade, de que o partido dos Huguenotes queria apoderar se: porém he certo, que se estes hereges fossem pacificos, e não tivessem calumniade, nem insultado, e veixado os Catholicos, nunca o Governo pensaria en inquieta-los.

Ao principio os Reformadores affectavam o mais profundo respeito, e acatamento para com os Soberanos. e authoridades civís, mas logo que se conheceram fortes mudaram de linguagem, e de sentimentos chegaram a decidir solemnemente em muitos Synodos que lhes era licito rebellar-se, e fazer guerra para obter a liberdade de consciencia, e o exercicio publico de sua religiaò; moral esta opposta diametralmente ao espirito de Jesus Christo, e do Evangelho, como lhes provou Mr. Bossuet, e á conducta dos primeiros Christãos, que no meio das mais sanguinosas perseguiçoens, e sendo ja tantos, que podiam fazer estremecer o Iuperio, foram constantemente pacientes, e submissos.

Deve finalmente notar-se que nao ha cousa, por sagrada que seja, de que não possa abusar-se; e não devemos . confundir a Religião com o abuso, que della podem fazer homens ignorantes, ou malignos; e he uma semrasio criminar uma Religião santa porque debaixo de

seo manto sagrado muitas vezes se encobre um malvado hypocrita, ou um fanatico forioso.

As guerras civís de Hespanha, e Portugal nestes nossos dias terá tide um motivo puramente politico. Uns queriam mais liberdade, outros não queriam tanta; uns queriam no throno da Hespanha Carlos, outros Izabel; uns queriam em Portugal a Senhora D. Maria II., outros D. Miguel. Dirao: he verdade, que nenhuma destas questoens diz respeito á Religião, mas os Padres, e Frades d'ambos os reinos para levantar o povo contra as novas instituições, e irrita-lo contra o partido liberal, langaram mão da Religião, e uma guerra de successão, e liberdade politica se tornou guerra de Religião, guerra, que soprada pelo Fanatismo he sempre mais crucl, e duradoura. Supponhamos primeiro este grande crime nos Padres, e Frades, que enganaram o povo, e o conduziram á sua desgraça debaixo do estandarte da Religio, fazendo o abominar instituiçoens, que o punham a salvo da tyrannia dos Nobres, e Soberanos: torno a perguntar, que culpa tem a Religião da malicia de alguns, ou ainda de muitos dos seos ministros ? a Religião foi feita para homens: nao os faz impeccaveis: dá lhes meios, e motivos para a virtude, e remedios para suas quédas, e descaminhos: attribuir os defeitos dos homens a uma Religiao Santa, e perfeita em

sua doutrina he vontade de calumniar. Alem disso: nao terao dado os liberaes motivo justo aos Padres, e Frades de suspeitar, e até de julgar, que a liberdade politica tao preconisada naō era mais que uma capa do indiferentismo religiozo, a que aspiravao, para poderem ser Deistas, Atheos, Materialistas a seo gosto, e des moralisar o povo segundo a extravagancia do modo de pensar de cada um? Se os Francezes na sua celebre revolugaō somente queriao a liberdade politica pelo exterminio de seos Monarchas, e estabelecimento da Republica; conseguido isto, porque motivo perseguirao abertamente o Caiholicismo, e sacrificaraō tantos centos de Ecclesiasticos ao odio, que tinhaō a esta santa Religiao para que levantáraó o Paganismo, ou Atheismo sobre as ruinas do Christianismo? para que substituirao as festas dos Genios ao grave, e magestozo culto dos mysterios Christãos? Se os Constitucionacs Hispanhoes em 1812, e os Portuguezes em 1820 somente pertendiaö recobrar para a naçao respectiva seos antigos foros, e privilegios, e obviar os males provenientes de uma má administraçao, da fraqueza, ou despotismo dos Monarchas, e seos ministros; porque razao se carregarão logo as imprensas de escritos cheios de sarcasmos, e anedoctas desatentas, ou calumniosas contra os Ecclesiasticos seculares, e regulares? porque motivo até

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