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pelo attestado constant e da Igreja desde Jesus Christo, e os Apostolos até nós, he incon sequencia mui manifesta, e nao he menor inconsequencia despresar a authoridade da Igreja ácerca de qualquer dogma, e inculcar submissão ás outras verdades reveladas.

He por tanto evidente que da heresia se passa por uma consequencia necessaria ao Socinianismo, e deste ao Deismo: os Socinianos ou Unitarios regeitam todos os mysterios: sómente admittem aquelles dogmnas, que estão ao alcance da intelligencia de cada um (Cuthecismo de Racow redigido por Socino): conseguintemente negam a Santissima Trindade, a divindade de Jesus Christo, a Incarnação, as satisfações do Salvador, do Salvador, a communicação do peccado original, os effeitos dos Sacramentos, a operação da graça, a justificação Sc. não reconhecem em Deos algum dos attributos, que a rasão não pode conceber, sua infinidade, eternidade, omnipotencia, &c.: não admittem a creação em rigor, porque não concebem, dizem elles, como Deus possa dar existencia ás substancias só por um acto de sua vontade: tiram a Deos a presciencia dos futuros contingentes, e alguns até negam a Providencia: Jesus Christo, segundo elles, não foi mais que um homem sabio, e Santo, que Deos fez' apparecer no mundo para dar aos homens lições,

e exemplos de virtude: admittem, como os Protestantes só dous Sacramentos, Baptismo, ‹ Cêa, a que não attribuem outra virtude, sendo • excitar a fé: negam a necessidade de uma ressurreição geral, e a eternidade das penas do, Inferno: crêem que as almas dos mãos seraó aniquiladas, e que as dos bons gozarao uma feli cidade eterna: affectam o maior respeito » para i a Revelação na sagrada Escriptura, porém á força de regras de critica, de observações grammaticaes, de pontuações arbitrarias, de varian tes, defeitos dos copistas, confrontações de passagens, subtilezas de Dialectica, fazem dizer aos Escriptores sagrados tudo, quanto lhes agrada: posto isto he evidente que o Sociniano naō; differe do Deista, senaō apparentemente, e que os principios adoptados pelos Protestantes por uma cadea de consequencias necessarias fundaram o Socinianismo, e deste nasceo o Deismo rigoroso, e propriamente dito: as objecções dos Deistas modernos contra os dogmas revelados, pela maior parte são tiradas dos Socinianos, e estes tomaram seos principios e a maior parte dos seos dogmas dos Protestantes.

O Deismo não he um systema menes inconsequente: um Deista, que raciocina, não pổde jamais firmar-se em sua doutrina, mas de consequencia em consequencia se achará insensivelmente abysmado no Atheismo, e Materia

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lismo, e remfim no Pyrrhonismo absoluto, ulti mo termo da incredulidade. Isto he demonstra do, não só pelas objecções dos Materialistas. contra os Deistas, mas tambem pelos factos, porque os mais celebres incredulos, depois de terem pregado o Deismo, vieram por fim a ensinar decididamente o Materialismo. Deista he um homem, que reconhece a Deos, é professa o culto, que a rasão humana deixada a sí mesma nos ensina, que se deve dar a Deos, a que chamam religião natural: ja provamos (26. ≈ ) que tal religião he uma chimera. O Deista regeita por tanto toda a Revelação, e todos os mysterios. Os Atheos tem demonstrado aos Deistas, que uma vez que admittem um Deos, são obrigados por força do raciocinio a admit tir mysterios, milagres, e revelações; e com effeito os attributos de Deos todos são mysteries; come supremo Legislador, e governador da natureza póde produzir um phenomeno contrario ás leis phisicas do Universo, que elle mesmo estabeleceo, e temos o milagre; e como Author do Universo, benefico, e provido não devia deixar os homens entregues á fraqueza de suas proprias luzes em materia de religião, mas exigindo edelles um culto, devia ensinar-lhes o modo deste culto, que 'the aprazia, e eis a revelagio: os Atheos tem além disso objectado aos Deistas, que sua portendida religião natural es

tá sugeita aos mesmos inconvenientes, que a religião revelada; que deve fazer naseer disputas, seitas, divisões, e a intolerancia, e que deve necessariamente degenerar. Os Deistas nem ao menos ousaram emprehender provar o contrario. São infinitos os mysterios, que o Deista coherente com seos principios se vê na necessidade de admittir, fazendo profissão de não admittir nenhum e ou deve retrogradar em seos principios e ser Christão, ou seguir suas consequencias, e ser Atheo, e Materialista. Porém nenhum Materialista apresenta provas directas do seo systema; nada mais fazem do que objectar difficuldades contra a hypothese da espiritualidade: não se concebe, dizem, a nature2a de um ser espiritual, nem suas operações; nem como póde ser encerrado n'um corpo, e imprimir lhe o movimento: mas conceber-se ha melhor uma materia eterna, necessaria, increada, e ao mesmo tempo limitada, e cujos attributos nem são eternos, nem necessarios, porque são mudaveis ? um ser puramente passivo, indifferente para o movimento, e para o descango, e que he, não obstante, o principio do movimento? um ser composto, e divisivel, e que he ao mesmo tempo o sugeito de modificações indivisiveis? todo o homem pensador, a não recuar á vista de eontradiccoens taō palpaveis, eáe n'uma duvida geral; vendo-se picado por

todos os lados dos absurdos, que se geram dos principios, que uma vez admittio, e capricha de sustentar, quer antes jazer n'um Pyrrhonismo infaine, que desdize los; este he o derradeiro precipicio do erro em materia de Religião. Começa-se por regeitar a authoridade da Igreja negando tal dogma: refusada esta, fica igualmente menoscabada a tradicção, em que ella se funda, e a Escriptura, entendida segundo e gráo de capacidade de cada um, he a unica regra de fé; mas engeitando o testemunho da Igreja em materia de dogmas, deve tambem recusar-se em materia de factos; porque uma testemunha he taō digna de fé, quando depoem, que vio, como quando attesta, o que ouvio. Se a authoridade dos Padres da Igreja não vale para os dogmas, tambem nao vale para os factos: alguns delles foram discipulos immediatos dos Apostolos; se elles foram capazes de mudar a doutrina, que lhes tinha sido confiada, e á qual os Apostolos tinha prohibido tirar, ou acrescentar cousa alguma, porque rasaō naö poderemos suspeitar isto mesino dos Apostolos? e sendo isto assim, quem he, que nos póde certificar da autenticidade dos livros sagrados ? que certeza nos podem causar testemunhas, de cuja intelligencia, critica, e boa fé nos tem feito suspeitar? por outro lado, uma vez que a rasao fica sendo arbitra do que deve crir-se na

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