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amor desordenado dos sentidos, e voluptuosidade no homem dest'arte espiritualizado se accende naturalmente o dezejo de saber, porque estando livre da escravidao dos sentidos não tem outro prazer igual, daqui vem a diligencia em buscar os meios; e por isso nio ha paiz no mundo, em que se tenhão estabelecido tantas escholas, Collegios, Academias, e Bibliothecas, como nos paizes Christãos. Desta sor-.. te a Religião Christan, que parece indifferente para a sabedoria profana, tem promovido efficasmente os assombrosos progressos de todas as sciencias, e artes. Na devastação cauzada pelos povos barbaros, que invadiram o imperio Romano, o Clero conservou as sciencias; e os sacerdotes Christaōs tem sido em toda a parte os orgaus da Instrucçao publica. Ao mesmo tempo que os sectarios de Mafoma degolavaō os sabios, e queimavao as bibliothecas, os Padres, e os Monges retirados pelo espirito da Religiao nos conservavaö alguma coiza do bom antigo, e nos deixavao o precioso fiucto de suas consideragoens e estudos. Alfieri em seo tratado da Tyrannia calumnia o Christianismo, quando diz, que "a Religião Christan em si mesma não he favoravel ao viver livre, mas que a Religião Catholica se torna quasi incompativel com o viver livre. Este fanatico da li

berdade acrescenta, que

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para provar a pri

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meira destas proposicoens bastava demonstrar que a Religião Christan de nenhum modo induz, nem persuade, nem exhorta os homens a viver livres.,, Ora Alfieri naō aprezenta tal demonstraçao, e certamente se veria bem embaragado se quizesse desenvolvê-la. Alfieri falla sem duvida de uma liberdade politica, mas nao define o que he viver livre: esta expressao he mui vaga: deveria fixar primeiro a ideia de legitima liberdade para poder affirinar com prudencia que a Religião Catholica he incompatível com ella. Ha muito tempo que se abusa do termo liberdade: os povos, a quem pertendem nossos liberaes esclarecer, andaò illudidos a este respeito. Se por esta liberdade, tao celebrada por Alfieri e per outros nestes nossos tempos, se intende a imitação ou regeneração da liberdade primitiva do homem, esta liberdade he tao chimerica, como o seo pro-. totypo. Nossos politicos incredulos, que naò querem Deos, nem lei divina, affirmaó que o homem he livre por natureza, izento de toda a lei, senhor absoluto de si mesmo, e de suas accoens; que sua liberdade não pode ser coarctada, senão quando nisso consente para seo, bem, que a sociedade civil he fundada sobre um contralo, pelo qual o homem se submete ás leis e ao Soberano, afim de ser delle protegido, que quando conhece que he mal go

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vernado pode romper os laços, com que se tinha ligado, e entrar de novo na independɩncia: mas tudo isto he pura imaginação, he phantasia, e libertinagem: tal liberdade jamais existio. Suppor que antes de toda a convenção o homem nada deve a outro homem he um erro: o homem deve sempre a outro a humanidade, e esta consiste em deveres reciprocos: para pensar o contrario he preciso suppor que o genero humano nasceo ao accaso, sem que algum ser intelligente e sabio presidisse a seo nascimento; o que he Atheismo puro.

Se não ha lei anterior, que obrigue o homem a sustentar sua palavra, e executar o que tem prometido, um contracto livre, ou convengão reciproca não pode impor obrigação aos eontrahentes tal convenção subsistirá sómente em quanto durar a vontade, e cada um terá o direito de manter a convenção ou de a romper quando lhe aprouver: o pacto social assim concebido he um absurdo.

Todos concordão que o homem he destinado a viver em sociedade com seos semelhantes, que reduzido a uma solidão absoluta seria o mais desgraçado de todos os animaes. Ninguem jamais se persuadio da theoria contraria de alguns modernos, porque o sentimento interior mais forte que todos os sophismas, basta para fazer esquecer todos os seos paradoxos. He contradic

á

ção affirmar que o homem he destinado a se ciedade pela natureza, e que entretanto he li vre pela mesma natureza, e izento de toda a lei. Não pode conceber-se sociedade sem leis, nem leis sem haver quem seja obrigado á sun observancia: por tanto todo o homem nasce subdito, e ligado a certos deveres, que moralmente não pode transgredir. A natureza nada significa, se por este termo se intende outra coiza, que não seja a vontade do Creador; se por natureza se intende a materia, esta nada quer, nada ordena, nada dispõe; mas Deos creador do homem, he tambem o autor de suas necessidades, e de seo destino, e conseguintomente da sociedade, e das leis sociaes, sem que elle consulte o homem, the impôz para seo bem os deveres da sociedade. Por tanto le absurdo suppor que o homem, que tem a Deos por Senhor, he entretanto seo proprio senhor,

que pode dispor de si mesmo contra a vontade de Deos, que he preciso um contracto para limitar sua liberdade, quando Deus lhe poz limites. Independente de toda a convenção um pai he obrigado a conservar e educar secs filhos, aliaz o genero humano accabaria em pou co tempo; os filhos da sua parte são obrigados a respeitar, e amar es que lhe derão a vida, e a educação, d'outra sorte os pais e.as mais se verião nas circumstancias de os des

truir para se desencarregarem do cuidado penosissimo de os nutrir, e educar. Uma vez que os filhos nascem com o direito de ser conservados, tambem nascem com o dever de ser reconhecidos e submissos. Direito e dever são correlativos em todas as coizas Se a liberdade, ou o viver livre, que Alfieri diz ser incompativel com a Religião Catholica, he a izengão da tyrannia, isto he, de um governo despotico e cruel; primeiro devemos advertir, que não ha Governo, que não esteja sugeito a este vicio. Ainda não houve Republica, que mais dia, menes dia não caisse na democracia, ou tyrannia do povo:

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por pouco, diz ,, um de nossos politicos incredulos, que se consulte a historia das democracias antigas

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e modernas, se vê que o delirio e o fogo presidem commumente aos conselhos do povo.... uma multidao ciumoza e odienta crê dever vingar se de todos os cidadãos, que merito, talentos, e riqueza lhe tornão odiosos; , a inveja, e não a virtude he o mobil ordi,, nario das republicas. Prova isto pelo exemplo dos Athenienses, e outros povos da Grecia, e des Romanos; ridiculiza os Inglezes, que por um temor pueril de escravidão deixao de ter entre si a devida policia. "He gozar,

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diz elle, de uma verdadeira liberdade, estar 2 exposto sem cessar aos insultos e excessos

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