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ligiao Christan propagada no Japão pelo zelo de S. Francisco Xavier, e dos Missionarios Portuguezes, sofreo uma perseguigao sanguinaria, e atroz no espaço de 50 annos, que a extinguio neste paiz, onde em 1596 já havia 400$000 Christaōs: uma multidaō innumeravel de Japonezes affrontáraó heroicamente os sup. plicios, e a morte por amor de Jesus Christo. Postos estes factos, será facil formar algum conceito da quantidade enorme dos Martyres do Christianismo. Basta para isto langar um golpe de Reflexão sobre a perseguição de Diocleciano: esta durou 10 annos consecutivos em to do o imperio Romano, que entao era composto de 73 Provincias, segundo a divisão do imperio feita por Adriano em o anno 171, a saber, duas na Italia, tres na Africa, tres na Hespanha, quatro nas Gallias, duas na Brițania, desesete na Illyria, quatro no Egypto, trêze no Oriente, seis na Thracia, oito no Pon<to, onze na Asia. Já mostramos que em todas estas Provincias estava derramado o Christianise podemos affirmar que talvez a maior parte da povoação do imperio professava esta Religiao. As ordens do Imperador erao apertadissimas, e rigorosas, como de que deveras aspirava a exterminar do Universo o nome Christao, os Pagaōs excessivamente fanaticos por sua superstigao aborrecião sobre maneira os que pro

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fessavaō a fé de Jesus Christo; estes eraō descobertos, e accusados por toda a parte; haviaō muitos dias, em que só n'uma Cidade eram mortos muitos milhares; nao somos por tanto exagerados em dar a cada dia desta perseguição 20 Martyres em cada Provincia, cabem-lhe de certo muitos mais. Nesta hypothese tao diminuta em cada Provincia eram martyrisados seiscentos Christaōs por mez, e nas 73 de que se compunha o imperio, quarenta e trez mil e oitocentos no anno sobe o computo a 525$600, e em dez annos a 5:256 000. Ajuntando a es. tes os Martyres das perseguiçoens anteriores, e os da Persia, veremos que não ha hyperbole em affirmar que os Martyres do Christianisme nos cinco primeiros seculos da Igreja excederam muito a 18 milhões.

§. II.

Da crueldade dos supplicios dos Martyres.

54. Para fazer idéa do caracter sanguinario dos Romanos, basta lançar um golpe de vista sobre seos banquetes, seos funcraes, seos jogos, e scos triumphos. Nao duvidavio exterminar familias inteiras para cevar sua vingança. No meio da alegria dos copos, e delicias da meza, o prazer, o riso, o jubilo deste festive

ajuntamento era sazonado com o sangue de infelices Gladiadores, que ali mutuamente se degolavao. Nos funeraes dos guerreiros derramava se o sangue dos captivos, e até ultimamente a pyra de qualquer particular, e mesino das Senhoras Romanas era banhada com o sangue dos Gladiadores: A gala maior de seos triumphos era fazer morrer multiplicidade de prizioneiros, misturando desta sorte os vivas, e cla. mores triumphaes com os gemidos, desesperação, e sangue dos miseros rendidos: o mimo de seos divertimentos era o : Amphitcatro aqui S0S000 Romanos de todas as classes, sexos, e idade cevavio gostozamente seos olhos na laceração e morte de milhares de infelices, que ora combatião entre si, ora com as feras. Trajano, sendo aliaz Principe humano, concedeo ao povo Romano no espaço de 123 dias 10$000 Gladiadores para servirem neste barbaro espectaculo. Com esta educação as Senhoras Romanas se tinhão tornado tam feroces, como os homens; Juvenal lhes lança em rosto sua barbaridade a par de sua soltura. Sendo taes os habitos do povo Romano, não he de estranhar, que os supplicios des Christãos hajio sido tão deshumanos, e atroces. Com effeito não somento os Autores Ecclesiasticos, S. Clemente, Tertulliano, S. Cypriano, Eusebio, e outros, e os Redactores dos Actos des Martyres, nos attes

tão a crueza des supplicios varios, e exquisitos, com que erão atormentados os Martyres, mas os mesmos Pagãos, inimigos declarados de Christianismo, Tacito, Plinio, Celso, e Libanio o reconhecem, e comprovão.

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Tacito no lugar já citado descreve os tormentos dos Christãos no tempo de Nero, dizendo: "Fizerão de sua morte um divertimento; uns cobertos de pelles de feras erao devorados pelos caens; outros prezos a estacas foram queimados para servir de fachos durante a noite. Nero franqueou seos jardins ,, para este espectaculo; e elle mesmo ahi com,, pareceo vestido de cocheiro, montado sobre ,, uma carroça, como nos jogos do Circo. Juvenal allude a estes factos na Satyr. 1. v. 55: Seneca ainda os encarece mais; falla do ferro, do fogo, das Cadêas, das bestas feroces, d'homens escalados, de prisoens, cruzes, cavalêtes, de corpos atravessados com páos agugados, membros deslocados, tunicas embebicas em pez, e de tudo o que a barbaridade humana pôde inventar. Epist. 14.

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Plinio não nos diz com que supplicios fazia morrer os Christãos, que recusavio apostatar; mas diz, que mandou matar todos os que perseverarão em não querer adorar os Deozes, e que poz a tormentos duas mulheres, que dizião ser Diaconissas para saber o que se

passava nas assembleas dos Christãos. 7. 10. Epist. 97.

Celso langa em rosto aos Christãos que quando são presos os condemnão aos supplicios, os crucificão, matão, e fazem sofrer todo o ge nero de tormentos. Orig. contra Celso l. 8 n. 39; 43: &c.

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Libanio diz que quando Juliano subio ao trono, os que seguião uma Religião corrom,, pida, temião muito; esperavão que lhes ar,, rancassem os olhos, lhes cortassem a cabeça, e fizessem correr rios de seo sangue; persuadião se que o novo Senhor inventaria ,, novos tormentos, mais crueis que o ser mu „ tilado, pizado, afogado, enterrado vivo; por. ,,"que os Imperadores precedentes tinhão empregado contra elles estas castas de supplicios.... Juliano convencido, acrescenta elle, de que o Christianismo crescia pela carna,, gem de seos sectarios, não quiz empregar ,,'contra elles os castigos, que não podia ap,, provar. Parent. in Julian. n. 58. Este mesmo facto he comprovado pelo teor dos cdictos contra os Christãos; deixava-se o genero de seo supplicio á discrição dos Governadores das Provincias, e dos Magistrados: estes decidião segundo o gráo de sco odio, e de sua crueldade pessoal, e segundo o maior, ou menor furor, que o povo manifestava contra os

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