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as idéas da Religião, e da moral, a authoridade dos sabios faria mui fraca impressão no espirito do povo, nada influiria no refreamento das paixoens, e suas demonstraçoens nao seriam comprehendidas pela maior parte.

Estas consequencias foram mui bem entendidas por Mr. Rousseau, quando exige a promulgação para as leis moraes da Philosofia, e requere a sua sancção; e elle mesmo confessa, que a Philosofia não ensinou aos homens a conhecer a Deos, menos podia encarregar-se da promulgação das leis moraes, e de sua sancção.

Ainda que a razao nos dicte, que se deve dar culto a Deos, com tudo nao prescreve a maneira deste culto. Deos póde ser adorado de muitos modos, pois ha diversas maneiras de lhe significar nosso amor, respeito e reconhecimento: só elle nos póde indicar qual he o modo, que lhe agrada a razão nada nos diz a esse respeito; e daqui veio a diversidade de sacrificios absurdos, usados nos differentes povos do Uni

verso.

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De tudo o que fica dito concluo; 1. Que a verdadeira Religião, devendo ser uma (22.), e devendo conter em sua doutrina a verdadeira idéa de Deos, que he adorado, e da creatura,, que o adora (25.), e sendo todo o genero humano igualmente obrigado á mesma Religião, e culto 122.), nao póde emanar só da razão:

2. Que a Religiaō primitiva (24.), à que tambem chamamos Religião natural, por ser conforme com a natureza de Deos, e do homem nas circunstancias, em que então se achava o genero humano, naō podia ser parto da razão do homem :

3. Que a Religão natural tal, qual a definém os Deistas; isto he, o culto de Deos, que a razão deixada á si mesma, e ás suas proprias luzes nos prescreve, he uma chimera: tal Religiao nunca existio, nem existirá com effeito se a razão deixada a si mesma, quer significar a razão do Selvagem de Connor, que religião podia forjar este bruto com figura humana, que nem sabia rir-se? E se essa razão he a de um ignorante educado no Paganismo, esse julgará, que a Religiaō Pagan he a mais natural, e a mais racionavel; assim o julgaram os mesmos Philosofos, que tinham a razão mais cultivada e esclarecida; pois quando lhes pregaram o culto de um só Deos, puro espirito, e Creador, decidiram, que esta contraria á razão.

Religião era falsa, e

Se a razão deixada a si mesma, e ás suas proprias luzes, he a razão de um Philosofo educado, e instruido no seio do Christianismo, he um absurdo chamar-lhe assim, pois que desde `a infancia foi esclarecida pelas luzes da Revelagaō, e naō he menos ridiculo chamar Religião

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natural aos dogmas, e culto, que um Philosofo assim instruido julgou conveniente adoptar. Os Deistas nos illudem grosseiramente, quando nos apresentam uma tal Religião, como mero parto da razão: se nao tivessem sido educados no Christianismo, por certo jamais a inventariam, assim como nunca o poderam fazer os Philosofos de Roma, de Grecia, e das Indias. Sua pretendida Religião natural he em rigôr mui sobrenatural, pois que os Philosofos, que nao tiveram noticia do Christianismo, jamais sonharam o systema dos Deistas. Uma cousa he dizer, que a razão humana, uma vez esclarecida pela Revelaçao, he capaz de sentir, e provar a verdade dos dogmas da verdadeira Religiaō, e outra sustentar, que a razão sem soccorro estranho, póde descobri-los. Os Deistas confundem estas duas couzas, e fundam todos os seos sofismas sobre este equivoco. Um homem com certo gráo de intelligencia he capaz de comprehender a doutrina, v. g., de Newton, senhorear-se de suas provas, e seguir suas consequencias, mas disso nao se segue, que elle seja habil para o inventar. Notese, que os progressos da Philosofia em Theologia natural, e Ethica, datam nos seculos do Christianismo: até este tempo tudo era incerteza, e trévas. Isto confessa Mr. Volney; 66 OS ,, homens, diz no cap. 2. da Lei natural pag, 19, nascidos ignorantes, e vivendo destruidos,

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nao tem conhecido a lei natural até os nossos ,, dias, senão superficialmente.,, Volney foi educado no seio do Christianismo.

§. III.

Da possibilidade, necessidade, e existencia da Revelação.

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27. A manifestaçaõ de qualquer verdade feita por Deos immediatamente ao homem, por outra qualquer via, que não seja a razão humana, he o que chamamos Revelação. Parece incrivel, que tendo os homens tantos meios de communicação mutua de seos sentimentos, e vontades houvesse quem duvidasse, de que o Creador podesse communicar ás suas creaturas, o que The aprouvesse entretanto os incredulos ousaram pôr isso em questao porém como provamos a existencia de uma Revelaçao, nao nos demoramos em objecto de tão pouca monta, pois a facto ad posse valet elatio, se a Revelagao existe; he possivel.

A verdadeira Religiao nao póde emanar só das luzes da razão, (coroll. 1. da 26.) a verdadeira Religiaō he absolutamente necessaria ao homem (21.); a todo outro meio, que naō seja a razao, pelo qual Deos nos manifeste algumas verdades, chamamos Revelação; logo a Revelação he necessaria ao homem.

Já provamos, que a Religião primitiva, ou Lei natural, não podia ser um mero parto da razão humana (coroll. 2. da 26.); logo foi revelada he conseguintemente um dos caracteres da verdadeira Religião o ser revelada.

Os Deistas dizem, que a Revelaçaō he superflua, pois que o homem nao póde ser culpado, seguindo as ligoens da luz natural, e os movimentos de sua consciencia; que he injusta, a não ser dada a todos os homens, che perniciosa por ser motivo de condemnaçao para todos aquelles, que não poderem conhece-la.

Se isto fosse verdade, diz bellamente Mr. Bergier, seguia-se, que he illicito dar aos homens qualquer instrucção, e qualquer educaçaō e que todo o Philosofo, que quizesse ensinar seos semelhantes, seria um insolente. Todos deviam dizer-lhe nao temos necessidade de vossas liçoens, pois que Deos nao exige de nós, senão o que podemos conhecer por nós mesmos : sois injusto, senaō ides doutrinar o mundo inteiro vossa Moral he perniciosa, pois só tende a fazer mais culpaveis aquelles, que peccarem depois de vos ter escutado!

Taes absurdos, consequencias necessarias das objeccoens dos Deistas, bastavam para confundi-los, e impor-lhes um eterno silencio: porém respondamos a cada uma destas duvidas.

Seria superflua, dizem, uma revelaçaō,

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