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que detestamos. Este ha de ter nascido da corrupção do coração humano, nutre-se com ella, e por isto só diffunde em torno de si elementos de morte; ao passo que aquella é o Anjo do Omnipotente, que arrasará essas tão velhas quão chimericas e caliginosas muralhas, que impedem os povos de viverem intimamente como irmãos. O indifferentismo é pois um espirito, que aniquila o homem, ao passo que a tolerancia, que advogamos, dá-lhe vida.

Desta arte tendo nós de tratar da legitimidade religiosa de um principio, que é encarado com a maior repugnancia pelas actuaes autoridades de qualquer culto que seja, entre tantos e tão variados, de que temos noticia, vemo-nos obrigado a principiar, investigando os fundamentos da autoridade. religiosa; pois só assim poder-se-ha melhormente aquilatar semelhante antipathia.

Será este o objecto de nossas primeiras proposições—a investigação dos fundamentos da autoridade religiosa. Depois occupar-nos-hemos com o christianismo em sua essencia, que é d'onde vemos brotarem os principios, pelos quaes com ardor propugnamos. Por ultimo trataremos da unidade da igreja christã, afim de mostrarmos, que a doutrina da verdadeira tolerancia, longe de perturba-la, concorre para que essa unidade torne-se cada vez

mais solida, mais ampla, mais resplandecente; pois, como veremos, tal unidade, comquanto não consista essencialmente na uniformidade do culto exterior, mas sim na mesma substancia da christandade, comtudo será ainda mais completa quando tal uniformidade baixar dos Céos sobre a fraternidade em Christo, estando esta solidamente estabelecida entre todos os povos, o que é o escopo

referida doutrina.

da

Nas doze seguintes proposições ou theses vamos enunciar todo nosso pensamento, que desenvolveremos em seguida.

DOZE PROPOSIÇÕES

PRIMEIRA PARTE.

PRIMEIRA PROPOSIÇÃO.

A verdade eterna e absoluta ha de se manifestar sempre a mesma em si; isto é, em todas as suas manifestações não póde haver substancialmente a minima contradicção.

SEGUNDA PROPOSIÇÃO.

Sendo o Christo a verdade eterna e absoluta, o Verbo de Deos entre nós, o poder por elle exercido e instituido não será ábsono comsigo mesmo em suas funcções, e jamais poderá estabelecer principios que não coadunem-se com Deos. Quem

affirmasse o contrario negaria a Christo, desconhecendo-o inteiramente. O poder, portanto, de que a igreja de Christoé permittido gozar, ha de estar de toda a necessidade em harmonia com o de Christo, jamais sendo-lhe permittido derrogar de sorte alguma os principios eternos por elle estabelecidos. Em consequencia disto é inquestionavel que todo o poder religioso, qualquer que seja, que pretender revolver o céo e a terra, conculcando os principios eternos da verdade do Christo, jamais poderá ser legitimo perante o Ente Supremo; e bem assim não é menos inquestionavel que o que for atado e desatado na terra por um poder illegitimo jamais sê-lo-ha nos céos. Pretendão muito embora os homens impôr leis á Divindade, e até em nome della, que Deos em seu obrar sempre será quem é: por elle jamais será sanccionado o que não se coadunar com os principios eternos por elle mesmo consagrados.

Se dos homens sensatos o poder illegitimo não

deve

esperar mais do que um profundo sentimento de compaixão, embora lhe sejão submissos com prudencia, como um tal poder pretenderá ter algum apoio em Deos, no Ente Omnipotente, na Perfeição infinita?! Não seria tal pretenção a de julgar esse ente em connivencia com semelhante illegitimidade? e em ultimo resultado não seria isto suppô-lo em contradicção comsigo mesmo? não equivaleria isto emfim á sua propria negação?!

TERCEIRA PROPOSIÇÃO.

O poder exercido e instituido por Christo, bem longe de ser arbitrario, é a mais completa manifestação da misericordia do ALTISSIMO, e dessa justiça que é ao mesmo tempo universal e eterna.

QUARTA PROPOSIÇÃO.

O poder conferido por Christo aos Apostolos não o foi de tal sorte que elles, os proprios Apostolos, sempre podessem de um modo absoluto gozar desse poder. Em outros termos, a infallibilidade pessoal não foi conferida aos Apostolos.

QUINTA PROPOSIÇÃO.

O principio impugnado na precedente proposição em nada aproveita á perpetua estabilidade da verdade entre nós ; pois quem sempre a protege é só Deos, que sabe de tudo, e que de tudo dispõe pelo modo o mais racional, e não artificios de tal quilate.

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