Obrazy na stronie
PDF
ePub

Mohammed, não obstante a adherencia, com que affirmára contar, de muitas tribus berberes. Mulei-Abd-el-Malek veiu ao nosso encontro com um exercito de 40:000 homens de cavallaria e 10:000 de infanteria, e na planicie de Tamistra entre Arzilla e Marrocos se deu a 4 de agosto de 1578 a batalha em que as armas portuguezas soffreram a derrota a que não sobreviveu o infeliz monarcha, que projectára esta expedição, ultimo lampejo das nossas conquistas em Marrocos1.

Reunido Portugal á Hespanha sob o sceptro de Filippe II, não só nada mais tentamos no imperio de Marrocos até á epocha da independencia em 1640, mas abandonámos Arzilla. Conservámos então as praças de Mazagão e Tanger, ficando Ceuta á Hespanha; e d'aquellas duas cedemos Tanger á Inglaterra em 1662, juntamente com Bombaim na India, como dote da princeza D. Catharina, que ía partilhar com Carlos II o throno de Inglaterra, de modo que no fim do seculo xvii restava-nos apenas das conquistas na Berberia a villa de Mazagão, que abandonámos tambem em 1769, cessando então de fluctuar em Marrocos a bandeira portugueza, trezentos e sessenta e quatro annos depois de ahi a termos plantado.

1 Sobre esta desgraçada expedição devem ler-se os primeiros capitulos do livro do sr. d'Antas Les faux D. Sébastien, Paris 1866, onde se acha compendiado o que sobre ella escreveram nacionaes e estrangeiros. A proposito d'este livro daremos noticia de outro mui pouco conhecido, e de que parece não teve noticia o sr. d'Antas; é o do nosso Estevam Rodrigues de Castro, professor de medicina na academia de Pisa, e medico do grão-duque da Etruria, publicado por seu filho Francisco de Castro em Florença em 1638; intitula-se: De simulato Rege Sebastiano Poëmation, olim juvenili etate conflatum a Stephano Roderico Castrensi, Lusitano, medico ac philosopho clarissimo, &c., modo in lucem editum a Francisco de Castro ejus filio. Florentiae 1638.

A historia dos nossos estabelecimentos em Marrocos apresenta-nos a applicação dos dois systemas, que n'este seculo foram discutidos em França com respeito à Algeria. Foi restricta e limitada ao norte a occupação, mas tambem as nossas praças, sempre cercadas, não abriam nenhum caminho ao progresso e á civilisação; foi extensa, brilhante e prospera ao sul durante algum tempo, mas acabou com revezes que nos desalentaram, e fizeram abandonar a conquista. Tinhamos todavia feito n'essa região tudo o que a sciencia vulgar parece prescrever. Administravamos os Arabes com chefes indigenas; governavamol-os por meios que ainda n'este seculo se julgavam os unicos applicaveis. Porque não fomos felizes? houve, é certo, muitas faltas, e tivemos a lutar com a poderosa influencia dos xerifes; mas havendo sempre erros, e luta com influencias hostis, não faltam todavia emprezas bem succedidas. Se esta o não foi, não o attribuamos só a causas secundarias. Que offereciamos aos Arabes, que contrapesasse e destruisse as antipathias de raça e de religião? A principio, e na anarchia que reinava em Marrocos, as tribus indigenas que se nos alliavam tinham em troca a tranquillidade e a paz; mas, estabelecido solidamente o poder dos xerifes, achavam com elles a mesma vantagem; e sendo identicas de ambos os lados as fórmas de governo, a religião e a nacionalidade deviam pela natureza das cousas actuar necessariamente contra nós. Eis a causa efficiente da reacção, que destruiu o nosso dominio na Berberia.

1

O CHRISTIANISMO NA AFRICA

I

Em nenhuma região do mundo antigo foi o christianismo mais florescente do que na Africa. Na vasta extensão de costas banhadas pelo Mediterraneo, desde Tanger até aos limites mais orientaes da regencia de Tripoli; n'essa terra, em que Mahomet reinou mais de dez seculos sem competidor, não havia senão christãos do IV ao vi seculo.

Mudou o islamismo o aspecto da Africa; fez desapparecer da Tripolitana, da Byzacena, da provincia carthagineza, da Numidia e das tres Mauritanias até ao ultimo vestigio da civilisação romana e do christianismo; mas não pôde apagar todas as memorias que se ligam ao antigo estado social e religioso da Africa septentrional. A Igreja africana, cuja historia vamos esboçar a largos traços, como preliminar á do seu restabelecimento pelos Portuguezes, legára, antes da invasão arabe, á Asia e á Europa immensos documentos, que attestam o heroismo de seus martyres, a multidão de

seus membros, a violencia dos seus schismas, e a sciencia de seus doutores 1.

Quando e por que missionarios foi o christianismo introduzido em Africa? É o que ignorâmos. É certo porém que, desde o fim do seculo 1, ou talvez antes, alguns discipulos dos apostolos vieram da Asia ou da Europa, em navios mercantes, trazer o evangelho ás populosas e ricas cidades do litoral africano. Devia ser Carthago o ponto de partida da prégação, e é de suppor que ali fosse constituida a primeira cadeira episcopal. Espalhou-se com rapidez a doutrina nova, e, como attestam os antigos documentos, entre elles as actas dos martyres, ganhou a religião homens de todas as classes, desde os escravos até aos que occupavam o primeiro logar na sociedade romana. No fim do seculo I havia já nas duas provincias, Proconsular e Numidia, grande numero de bispados2, e na mesma epocha reunia-se em Carthago o Concilio convocado pelo bispo Agrippinus.

Tal foi o successo das idéas christas, que impressionou o governo imperial. Receioso do seu desenvolvimento, ordenou Septimio Severo ao proconsul Vigelius Saturninus o emprego de medidas repressivas contra os sectarios da nova religião. Speratus com onze companheiros da cidade de

1 Para a historia da antiga Igreja de Africa devem consultar-se Schelstrate, Ecclesia africana, París 1680; Leydecker, Historia Ecclesiae africanae illustrata, Utrecht 1690; Morcelli, Africa christiana, Brescia 1816 (3 vol.); Munter, Primordia Ecclesiae africanae, Hafn 1829; Yanosky, L'Afrique chrétienne, Paris 1844; Dupuch, Essai sur l'Algérie chrétienne, Turin 1847; Bargès, Aperçu historique de l'Église d'Afrique en général, Paris 1848; Dupuch, Fastes sacrés de l'Afrique chrétienne, Bordeaux 1850.

2 S. Cypriano, Epist. LXXI ad Quint.; Morcelli, Africa christiana, tomo I, pag. 30.

« PoprzedniaDalej »