Obrazy na stronie
PDF
ePub

CAPITULO III

BISPOS DE CEUTA1

SECÇÃO I

ATÉ A UNIÃO COM O BISPADO DE TANGER

I-D. FR. AYMAR

1421-1443

D. fr. Aymar, religioso da observancia de S. Francisco, era confessor da rainha D. Filippa de Lencastre, mulher de D. João I, á qual acompanhou quando ella veiu de Inglaterra para Portugal. Alguns o julgam Francez, e d'este numero parece ser Wadding, que lhe dá o appellido de Orleans; mas fr. Manuel da Esperança segue a opinião geral, que o considera Inglez, fundando-se para isso no testemunho do padre fr. João da Povoa, muito proximo d'este prelado, e que sobre elle deixou no convento da Insua algumas memorias 2.

Foi D. fr. Aymar, nomeado bispo de Marrocos pelo Papa João XXIII por bulla de 10 de maio de 1413, ainda em vida d'aquella rainha, a qual falleceu da peste em Sacavem a 19

'Antes de D. fr. Aymar achâmos menção como titular de Ceuta, no seculo xm, de fr. Lourenço, da ordem dos menores, pelos annos de 1267. Figura reconhecendo o transumpto de uma bulla de Clemente IV, que se conservava no archivo franciscano de Guimarães, por esta fórma: Ego fr. Laurentius, episcopus de Septa, vidimus privilegium Papae ; e consta ter dado ordens em Lisboa com licença do bispo. -- Domingos de Gubernatis, Orbis seraphicus, tomo I, pag. 546; Esperança, Historia seraphica, liv. v, cap. XLII.

[ocr errors]

Wadding, ad. an. 1413; Domingos de Gubernatis, Orbis seraphicus, tomo I, pag. 541 e seg.; Sousa, Historia genealogica, tomo п, pag. 27, Figueiredo, Lusitania sacra, tomo ш, fol. 135, etc.

de julho de 1415 1; e n'essa qualidade figura em 20 de maio de 1416 n'um documento do cartorio de Santa Clara do Porto, referido por João Pedro Ribeiro 2. Erecto o bispado de Ceuta em 1421, foi transferido para elle por Martinho V por bulla de 5 de março de 14213; mas parece que, ou nunca foi ao bispado ou se lá esteve foi muito pouco tempo, porque o vemos empregado no reino em serviço que d'isso o inhibia, como o de capellão mór de D. João I, de D. Duarte e ainda de D. Affonso V, que o nomeou por alvará de 21 de junho de 1439; e com este titulo apparece a 8 e 29 de dezembro em documentos do cartorio de Pombeiro, referidos pelo mesmo J. P. Ribeiro 5. D'este prelado achâmos mais algumas memorias posteriores á sua transferencia para Ceuta. Em 1424, por bulla de 28 de setembro, lhe concedeu Martinho V poderes para segurar os franciscanos de S. Francisco de Orgens de Vizeu na posse de seu convento, que haviam fundado sem licença do Papa 6. Em 1431 a 6 de maio foi um dos bispos assistentes á sagração do de Coimbra, D. Alvaro Ferreira7. Em 1433, pelo breve Piis fi

'AA. cit.-Esperança, Historia seraphica, parte II, liv. XI, cap. v, pag. 428, e cap. xvII, pag. 577 e 689.-Seria fr. Aymar apenas bispo titular de Marrocos, ou teria effectiva jurisdicção? Wadding (ad. an. 1413, n.o 6) não o considera simples titular, e colloca-o na serie dos prelados que tinham exercicio da sua jurisdicção, como successor do bispo de Marrocos D. fr. Diogo de Xeris; e o mesmo segue o padre Esperança, loc. cit., сар. XLIII, e liv. XII, cap. XIX.

[blocks in formation]

*Lima, Geographia historica, Lisboa 1735, tomo 1, pag. 365; Figueire do, loc. cit., 135.

'Loc. cit.

'N'este tempo era elle capellão mór de D. Duarte, ainda infante, como declara o escrivão do processo de execução da bulla: estando ahi D. Aymaro, bispo de Ceuta e capellão mór do infante, etc.- Esperança, loc. cit.; fr. Martinho do Amor de Deus, Chronica da provincia de Santo Antonio, tomo 1, liv. 1, cap. xx.

'Leitão, Catalogo dos bispos de Coimbra, nas Memorias da academia de historia, de 1724.

delium, votis de Eugenio IV, de 28 de junho, erigiu em convento regular o oratorio do Espirito Santo de Gouveia 1. Emfim foi abbade commendatario do mosteiro de Pombeiro, logar que exerceu desde 1424, sendo ainda bispo de Marrocos2.

Falleceu em 1443, como consta do provimento do seu suc

cessor.

II-D. FR. JOÃO MANUEL

1443-4458

Era natural de Lisboa, e filho illegitimo de el-rei D. Duarte, e de D. Joanna Manuel, da illustre familia dos Manueis em Castella, que deduz a sua origem do infante D. João Manuel, filho do santo rei D. Fernando 3. Foi creado no convento do Carmo em companhia de fr. Nuno de Santa Maria, o antigo condestavel do reino, e tomou o habito aos quatorze annos, professando logoque chegou á idade competente".

Em 1441 foi feito provincial da sua religião, e ao mesmo tempo prior do convento de Lisboa, e vigario geral n'este reino do geral da ordem carmelitana Fr. João Fasci, logares que conservou por muito tempo ainda depois de bispo 5.

Seu tio o infante D. Pedro, regente na menoridade de D. Affonso V, conhecendo a sua capacidade, o encarregou de missões diplomaticas importantes na Hungria e em Roma 6. A primeira embaixada a Roma, aonde foi acompanhado com o mes

'Figueiredo, loc. cit., fol. 136; Wadding, loc. cit., tomo x, etc. Fr. Leão de S. Thomás, Benedictina Lusitana, tomo п, Coimbra 1651, pag. 73.

3

3 Fr. Manuel de Sá, Memoria historica dos arcebispos e bispos da ordem do Carmo, Lisboa 1724, pag. 213 e seg.; Sousa, Historia genealogica da casa real, tomo XI, pag. 380 e seg.; Figueiredo, loc. cit., fol. 137.

Mariz, Dialogos, IV, pag. 212; fr. J. B. Lezana, Annaes, tomo IV, pag. 856, n.° 4.

Fr. Manuel de Sá, loc. cit., pag. 216; Figueiredo, ibid.

Da embaixada á Hungria falla elle mesmo na escriptura de instituição do morgado, que fez para D. João Manuel.—Sá, loc. cit., pag. 216.

mo caracter pelo prior da collegiada de Guimarães Ruy da Cunha, e donde voltou em 1440, teve por objecto principal a dispensa para o casamento de D. Affonso V com sua prima D. Izabel, filha do regente, e a isenção total dos mestrados de S. Thiago e Aviz das ordens de Vellez e Calatrava, a que estavam sujeitas; tudo conseguiu, sem embargo da opposição de Castella; mas Eugenio IV concedeu a dispensa sómente vivae vocis oraculo, talvez para dissimular com a opposição promovida pela rainha D. Leonor em odio ao infante regente1.

N'esta occasião foi elevado pelo Pontifice a bispo de Tiberiades in partibus infidelium; e posto que alguem duvidou que elle chegasse a ser sagrado, e o julgou apenas eleito, a bulla da sua transferencia para Ceuta convence do contrario, dizendo expressamente... a vinculo quo eidem Ecclesiae Tiberiadensi, cui tunc praeerat, de fratrum nostrorum consilio et apostolicae potestatis plenitudine absolventes etc 2.

Por morte de D. fr. Aymar, foi nomeado bispo de Ceuta, e confirmado por bulla de Eugenio IV, de 20 de julho de 1443; e pela de 14 de julho do seguinte anno lhe deu o mesmo pontifice o titulo de primaz de Africa, assignando-lhe para sustentação as administrações de Valença do Minho e de Olivença, annexadas á sua diocese, e concedendo-lhe tambem para ella muitas graças e privilegios 3. Aindaque D. João Manuel foi a Ceuta tomar posse, a sua residencia foi muito curta, porque seu irmão, D. Affonso V, o nomeou seu capellão mór,

'Duarte Nunes, Chronica de D. Affonso V; Sousa, Historia genealogica, tomo XI, pag. 381 e seg.; Faria e Sousa, Europa portugueza, tomo II, pag. 269; Sá, loc. cit., pag. 217; Figueiredo, loc. cit.

'Sousa, ibid.; Sá, ibid.; Speculum carmelilanum, parte II, tomo II, pag. 935, n.o 3275.

Cunha, Historia de Braga, parte II, cap. LVII, pag. 240; Sousa, pag. 384; fr. José Pereira de Sant'Anna, Chronica do Carmo, tomo п, n.o 93.

cargo qué já exercia em principios de 1450, como se vê de uma procuração que em 20 de janeiro deu a Gonçalo Pires, seu creado, para em seu nome tomar posse do casal da Torre, que mestre Henrique, medico de el-rei D. Duarte, deixára em testamento ao convento do Carmo de Lisboa 1.

Vagando em 1458 o bispado da Guarda, foi para elle nomeado por D. Affonso, e confirmado por Pio II em bulla de 15 de janeiro do seguinte anno; mas a pedido seu ou à desejos do proprio rei, que queria têl-o em Lisboa, lhe foi dado coadjutor por Xisto IV, a 24 de julho de 1476, o seu amigo D. João Affonso Ferraz, que lhe succedêra na Igreja de Ceuta. Pouco lhe aproveitou isto, porque no fim d'esse anno falleceu em Lisboa, e foi sepultado no convento do Carmo 2.

Teve D. fr. João Manuel de Justa Rodrigues Pereira, mulher nobre, que fora ama de leite de el-rei D. Manuel e fundadora dó mosteiro de Jesus de Setubal, dois filhos: D. João Manuel, que foi camareiro mór do mesmo rei e alcaide mór de Santarem, de quem descendem em Hespanha os senhores de Alconchel, e em Portugal os de Fermoselhe 3; e D. Nuno Manuel, que foi guarda mór do mesmo rei e senhor de Salvaterra de Magos e das Aguias, do qual descendem os condes de Atalaya, marquezes de Tancos 4.

'Carvalho, Chorographia, tomo I, pag. 663; M. de Sousa Moreira, Theatro genealogico da casa de Sousa, pag. 829.-0 respectivo instrumento e auto de posse existia no cartorio do convento do Carmo, de Collares.Sá, loc. cit., pag. 218.

'Leal, Catálogo dos bispos da Idanha e Guarda, nas Memorias da academia de historia, de 1726; Figueiredo, fol. 139, v.

8

Casou com D. Izabel de Menezes, filha de Affonso Telles de Menezes, alcaide mór de Campo Maior.-A. C. de Sousa, Memoria historica e genealogica dos grandes de Portugal, Lisboa 1755, pag. 286 e seg.

[ocr errors]

* Casou com D. Leonor de Milãa, filha de D. Jayme de Milãa, conde de Albayada, e de D. Leonor de Aragão, filha de D. Affonso de Aragão, mestre de Calatrava e neta de el-rei D. João de Aragão. Figueiredo, fol. 140; Sousa, ibid., pag. 287.

« PoprzedniaDalej »